domingo, 21 de junho de 2009

Educação: a mania do Brasil em copiar modismos

A vitória da pernambucana Larissa Oliveira no programa Soletrando do Caldeirão do Huck no último sábado (20/06) vem confirmar uma realidade que muitos ainda insistem em não ver: o modelo tradicional de educação (com provas, notas, disciplina e cobrança de resultados) funciona! Larissa, de 15 anos, é aluna do Colégio Militar do Recife.

Penso que o maior problema de nós brasileiros é a mania de copiar modismos pedagógicos e didáticos que vêm de fora, sem critério nenhum. A meu ver, é melhor utilizar o velho e tão criticado modelo tradicional que tem falhas, mas dá certo, do que se aventurar com mudanças que têm provocado resultados desastrosos.

O ônus de nossa mania de copiar modismos está aí para todo mundo ver: alunos que chegam ao ensino médio sem saber escrever ou interpretar textos simples. São analfabetos funcionais.
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Neste contexto, dois equívocos são evidentes: seguir a orientação do psicologismo barato segundo o qual estudo tem que rimar com prazer; e a cultura da aprovação automática.

A moda, no Brasil, há muito tempo, é procurar unir o lúdico e o didático, aprendizagem e prazer. Ora, a escola não é circo ou parque de diversão: é lugar de empenho, esforço, dedicação, compromisso. Ali se constroem os profissionais e os cidadãos do futuro para atuar em um mundo cada vez mais complexo, cada vez mais letrado, cada vez mais exigente. Não é lugar para brincadeira.

Já a cultura da aprovação automática só é boa para as estatísticas do governo, mas traz danos por vezes irreparáveis para a vida dos estudantes, perpetuando sua condição de marginalização.
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É claro que as questões discutidas aqui só dão conta de parte do problema. Outras questões são igualmente importantes como a qualificação profissional do professor, a valorização do magistério, melhoria das condições de trabalho e uma gestão escolar que funcione minimamente. É urgente a necessidade de repensarmos nosso modelo educacional e agirmos enquanto é tempo. O mundo não vai nos esperar.
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Veja aqui outro artigo do blog que trata desta temática

4 comentários:

cliojorge disse...

Realmente, os modismos tornaram-se um problema na nossa educação. Como você citou bem, há outros. Porém também creio que uma coisa que prejudica é a relação que é construída entre professores-alunos-aprendizagem, onde muitas vezes os professores e alunos se encontram perdidos. Parecendo estarem em pólos opostos e sem saberem direito o quê e por quê ensinar(professores) e o quê e por quê aprender (alunos).

Um abraço!

Marcelo Clemente disse...

Jorge, obrigado por seu comentário! Fico feliz em saber que você também mantém um blog. Vou adicionar o link no meu blog pra que eu possa acompanhá-lo.
Forte abraço!

... disse...

Caro amigo Marcelo,

Louvo seu interesse em moralizar a escola e resguardá-la de modismos tão efêmeros quanto inúteis, bem como alertar para essa infame aprovação "de qualquer maneira".
Mas questiono dois pontos em seu texto.
Primeiro, tomar como modelo educacional alguém que se sai bem num programa de soletramento parece-me um parâmetro duvidoso. Saber as letras de uma palavra não implica, necessariamente, ter consciência crítica apurada para entender aquela palavra contextualmente, e como cidadão. Mestre Paulo Freire (que não foi modismo) que o diga!
Segundo, dizer que aprendizagem não rima com prazer, com alegria, me parece reivindicar a volta da palmatória e do caroço de milho sob o joelho. A escola não é um circo, nem o professor um palhaço, concordo; mas também não creio que o prazer que você sente ao ler, estudar, pesquisar e produzir textos deva ser negado a quem está ensaiando os primeiros passos nessa festa interior que deve ser o aprender.
Sem modismo, reafirmo.
Grande abraço do amigo e admirador.

Marcelo Clemente disse...

Saudações, prof. Edson Tavares,
Sua participação neste espaço é uma honra pra mim!
De fato, a forma como o texto foi escrito dá margem para a interpretação que você faz. Concordo quando você diz que o bom desempenho em soletração não é um parâmetro adequado para avaliar o desempenho educacional. Como você bem disse, ortografia é apenas uma pequena parcela do conhecimento linguístico que o indivíduo precisa ter para atuar na sociedade. O que chama atenção no exemplo citado é o fato de Larissa ser do Colégio Militar do Recife, cujas práticas pedagógicas representam uma antítese do modelo educacional orientado pelos modismos a que me referi. O fato é que, nas avaliações nacionais de desempenho, são as escolas militares e as federais públicas que têm os melhores resultados, superiores até aos das escolas privadas.
Quanto ao prezer, concordo que as metodologias de ensino devam se pautar pelo lúdico nos primeiros anos escolares. No entanto, quando falamos de pré-adolescentes e adolescentes, essa prática parece falhar. Se a escola é a principal agência de letramento do indivíduo e se a ela cabe boa parte da formação para o sujeito atuar na sociedade, é preciso que a escola ofereça um ensaio para a vida, com todas as responsabilidades, exigências e dasafios que o mundo lá fora nos impõe.
Forte abraço!