sábado, 29 de novembro de 2008

Por que os programas de tradução não funcionam?

Quem já tentou traduzir algo de inglês para português ou vice-versa em softwares e ferramentas de tradução talvez tenha se decepcionado com o resultado. Isso ocorre por um motivo muito simples: a linguagem verbal não é um sistema, um código, nem uma linguagem exata e universal como a matemática.

Cada língua nasce e se desenvolve no interior das culturas e das práticas de uma sociedade. Resultado de uma construção histórica e social, a língua diz o mundo e o constitui, de acordo com cada contexto particular, fazendo com que seus falantes compartilhem vários padrões de sentido. Não há língua sem falantes, sem cultura e sem história.

O fato das línguas serem uma construção sócio-cultural e histórica e não um código ou um sistema autônomo que não sofre influencia do meio torna praticamente impossível a conversão automática de uma língua em outra. Traduzir não é transformar um código em outro, mas captar as nuances de sentido de uma língua e procurar descrevê-las em outra, tarefa que só o engenho humano pode realizar.

A tradução, portanto, não se dá no nível sintático (da estrutura) e lexical (do vocabulário), como querem os projetistas de softwares de tradução, mas no nível semântico, ou seja, no nível do sentido.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O fenômeno da indústria do jeans em Toritama

O pólo de confecções do agreste de Pernambuco desperta ao mesmo tempo surpresa e estranheza para o resto do país. Não entende como é possível que cidades do interior do nordeste consigam tanto crescimento econômico em meio a tanta adversidade.

Há algum tempo, a bola da vez é a cidade de Toritama. Lá, a indústria do jeans tem produzido mais e mais novos ricos a cada dia que passa. Porém, o progresso econômico não se converte em desenvolvimento, em qualidade de vida para os moradores da cidade. Não parece haver um retorno social, uma contrapartida dos empresários para a melhoria do município. Segue o mau caminho já percorrido por Santa Cruz do Capibaribe: os empresários usam a cidade para ganhar dinheiro, mas o investem em outros lugares: apartamentos luxuosos em capitais, casas de campo em Gravatá, casas de veraneio no litoral, roupas de grife nos shopping centers, etc. São filhos ingratos.

Além da falta de responsabilidade social, há também total descaso com as questões ambientais. Assim como ocorre em Santa Cruz do Capibaribe, Toritama também “assassinou” o Rio Capibaribe, convertendo-o em depósito de dejetos e de produtos químicos das lavanderias e tinturarias de jeans.

A geração de riquezas para alguns e de renda para a população em geral é condição essencial para todo município. Santa Cruz e Toritama conseguem fazer isso, e muito bem, por sinal. No entanto, está na hora de pensarem mais na qualidade de vida, inclusive na dos novos ricos. Uma cidade que pensa no social, que cuida de seus jovens para que não entrem no mundo da droga, do alcoolismo e do crime, diminui os índices de violência e melhora a vida de todos. Tal responsabilidade não é só do poder público, mas de toda a sociedade.

sábado, 22 de novembro de 2008

A era da beleza


Nunca o ser humano se preocupou tanto com a aparência física. Vivemos numa época de culto ao corpo, cujo altar é a academia e o Deus é o perfeito reflexo no espelho. O problema é que quem determina o padrão de beleza não são especialistas em saúde, mas a indústria de cosméticos, de suplementos alimentares e de remédios.

A indústria da beleza, através das várias mídias de massa (revistas, televisão, outdoors, internet) veicula o corpo perfeito e vendem a idéia de que qualquer um pode alcançá-lo, independente do biótipo do indivíduo. Porém, são padrões de beleza praticamente inatingíveis, tudo para perpetuar o consumo de produtos. Operam, portanto, com a seguinte estratégia: gerar insatisfação nas pessoas para gerar mais consumo. Não é por acaso que a indústria da beleza tornou-se um dos negócios mais lucrativos neste início de século.

Uma outra conseqüência do culto exagerado ao corpo é conceber a velhice como algo totalmente negativo, que deve ser evitada a todo custo, como se pudéssemos parar o tempo e driblar a condição humana. Para isso, a indústria oferece seus produtos e serviços mágicos: cremes, hidratantes, tinturas para os cabelos, botox, cirurgias plásticas, etc.

O cuidado com o corpo deve, evidentemente, fazer parte do projeto de vida do ser humano e contribuir para a saúde e para o bem estar do indivíduo. O problema surge quando o bom senso cede lugar ao excesso e começa a gerar problemas tais como a negação de si, a bulimia, a anorexia, a baixa auto-estima, a prática excessiva de exercícios físicos, tudo em nome de uma perfeição perversa e muitas vezes inatingível.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Seus clientes são idiotas?


Os clientes da Claro em nossa cidade vêm, nos últimos meses, percebendo uma queda considerável na qualidade do serviço. Na última semana, o que já estava ruim, piorou ainda mais: o telefone não faz e agora nem mesmo recebe ligações.

Entrei em contato com a operadora pelo 1052 para exigir uma explicação razoável pela total precariedade do serviço. Após passar por cinco etapas do atendimento automático, cheguei na opção de falar com um atendente de carne e osso.

Expus o caso para a atendente e sugeri que a Claro fizesse uma revisão na rede que transmite o sinal em nossa cidade. Apesar de informar que o problema era comum a todos os usuários da Claro que conheço, a atendente insistiu que cada linha é um caso específico.

Embora contrariado, tive paciência para ver aonde tudo iria chegar. Começa a bateria de perguntas: “Qual a cidade?”, “Qual o estado?”, “Qual o número da linha?”, “Qual o DDD”, “Consegue realizar ligações?”, “Que mensagem aparece no aparelho?”, etc, etc, etc, etc... (detalhe: a cada pergunta, pedia para esperar um momento).

Após todo essa enrolação (vinte e cinco minutos para ser mais exato), a solução que a atendente me oferece é colocar o chip em um outro aparelho e caso isso não funcione, sugere que volte a procurar o atendimento. Perguntei se seria necessário passar por todo o processo novamente e responder todas aquelas perguntas de novo. Advinha qual foi a resposta?

O atendimento e o serviço prestados pela Claro mostram o total descaso com que trata seus usuários. Com seus lucros bilionários, talvez os clientes de uma “cidadezinha” do interior do Nordeste não tenham nenhuma importância para os negócios desta “excelente” empresa de telefonia móvel.

Santa Cruz do Ex-Rio Capibaribe

http://www.youtube.com/watch?v=DHBlSI1OUWk
O tratamento dado ao Rio Capibaribe pelos santa-cruzenses mostra nosso total desprezo com as questões ambientais. Para nós o rio não passa de um canal para escoamento da água das chuvas e um depósito de dejetos provenientes de nossos esgotos. Para a prefeitura municipal, um lixão para depósito de entulho. A morte do rio no trecho que corta nossa cidade é uma das nossas maiores irresponsabilidades como povo e uma herança vergonhosa para as novas gerações santa-cruzenses.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Forró estilizado – valores invertidos


A música, como uma das várias modalidades de manifestação cultural, passa valores e conceitos, influencia atitudes e comportamentos. Por isso, não é ideologicamente neutra, como, aliás, nenhuma manifestação cultural é. Veja-se os filmes de Hollywood como influenciaram o comportamento, a maneira de vestir, os hábitos de consumo, fomentando uma homogeneização da cultura mundial. No âmbito mais local, o forró estilizado propaga valores que até pouco tempo eram considerados como negativos: o alcoolismo, o machismo, a mulher como objeto, a banalização do sexo, a traição conjugal e a promiscuidade masculina.

Como o discurso midiático tem uma forte influência sobre as mentes das pessoas, esses “valores” passam a fazer parte do ‘inconsciente coletivo’ (para usar um termo de Jung) e vistos como algo positivo, aceitável, comum.

A mensagem mais freqüente nessas músicas é o alcoolismo como virtude, como uma atitude de coragem, de masculinidade, uma demonstração de força, de virilidade.

O erotismo é outro aspecto bastante explorado por tais músicas. Trata-se de um erotismo extremamente machista em que a mulher é vista exclusivamente como objeto, como uma mercadoria que pode ser usada ao bel prazer e depois descartada. A inculcação desse discurso é tão forte que as próprias mulheres chegam a reproduzir esses valores, sem ver neles nenhum prejuízo.

Seguindo o discurso machista, a promiscuidade, a banalização do sexo e a traição conjugal são atitudes vistas como naturais, positivas, porém apenas se praticadas por homens.

Como nós, brasileiros, gostamos de relativizar tudo, levamos tudo na brincadeira, vemos essas músicas como engraçadas, inofensivas, divertidas, e não olhamos para a carga ideológica que elas trazem: o discurso fundamentalista-machista.

sábado, 1 de novembro de 2008

O inglês como língua global

Na história, algumas línguas assumem o papel de língua internacional por algum tempo. Esse status já foi alcançado por línguas como o grego, o latim, o árabe, o francês e hoje, o inglês. Mas é um equívoco pensar que as línguas assumam este posto por características intrínsecas a elas, como a facilidade em aprendê-las, sua riqueza expressiva, seu potencial literário ou qualquer outro recurso que a língua possa possuir.

Como afirma o lingüista irlandês David Crystal, o motivo para que o latim assumisse importância internacional nos primeiros séculos da era cristã não estava em sua riqueza expressiva e literária, mas “na ponta das lanças e das espadas dos soldados romanos”. Portanto, as línguas assumem a importância e o prestigio que os seus falantes têm.

No século XIX, a Inglaterra emerge como grande potência industrial e econômica no cenário global e o inglês passa a assumir o posto antes pertencente à língua francesa. A consolidação definitiva do inglês como língua franca global ocorre quando os Estados Unidos vencem a II Guerra Mundial e se consolidam como a maior potência mundial em várias frentes: bélica, econômica, tecnológica, científica, midiática, etc.

Com o advento dos meios de transporte aéreos, os novos meio de comunicação de massa e a consolidação da economia sem fronteiras, o mundo encolheu e possibilitou o surgimento, inédito na história humana, da primeira língua verdadeiramente global, presente em todos os recantos do mundo, seja como primeira língua, como segunda língua ou como língua estrangeira.