terça-feira, 23 de setembro de 2008

Uma grande perda...

Nesta manhã de segunda-feira (22/09/08), recebi, perplexo, a notícia da morte do professor e grande amigo meu, José Nivaldo Pereira Ramos (44 anos). Lembro das nossas longas e prazerosas conversas sobre os mais variados assuntos. Era um homem de fácil convívio, de grande amorosidade, de enorme senso de humor, de muitos amigos.

Fascinado pela busca de conhecimento, procurava entender a vida em sua forma mais profunda e radical. Lia sobre tudo, Ciência, Política, Economia, História, Religião, Tecnologia, Filosofia, e sobre suas duas grandes paixões: Física e Aviação.

Professor nato e de inteligência singular, inspirou e incentivou muitos jovens santa-cruzenses como eu a mergulharem mais fundo no mar do conhecimento. Determinado, desde cedo aprendeu a língua inglesa e realizou um de seus grandes sonhos: viajar para várias partes do mundo (Inglaterra, Alemanha, Portugal, Estados Unidos, entre outros). Foi um dos pioneiros ao trazer o estudo de Informática para Santa Cruz.

Dedicado à família, tinha uma das mais bonitas relações que um pai pode ter com seu filho, com respeito, amizade, atenção, companheirismo, dedicação, orientação e afeto.

Atualmente tinha três projetos: terminar sua graduação em Física, fazer Especialização em Matemática e o mais audacioso, construir um pequeno avião.

Apesar de não ser um homem de fé, deixa um forte e hoje raro testemunho de hombridade, de senso de justiça, de respeito pela pessoa humana e de honestidade. Nivaldo parte, de repente, sem avisar, deixando uma grande lacuna nos corações daqueles que, como eu, tiveram o privilégio de conviver e de aprender com ele.

sábado, 13 de setembro de 2008

A escola em crise


A instituição escola está doente. Os sintomas são os mais variados possíveis: relação professor-aluno comprometida, falta de interesse e compromisso dos jovens nos estudos, baixos níveis de aprendizagem, indisciplina generalizada e perda do respeito pelo professor.
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Os jovens de hoje são muito diferente dos de antigamente, são fruto de uma geração que pregou o liberalismo, que recebeu influência da psicologia, que não concorda com punições e que teme provocar traumas. A mulher que antes era a presença e a referência adulta no lar, acompanhava de perto o dia a dia das crianças, cuidava e educava segundo princípios de conduta que recebeu quando jovem, agora precisa enfrentar longas jornadas de trabalho fora de casa. Como resultado, as crianças hoje passam mais tempo com a televisão, o vídeo-game e a internet do que com os pais. As empregadas domésticas que acabam tendo mais contato com as crianças, não têm autoridade nem legitimação para educá-las.
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Essa falta de norte, de assistência e de acompanhamento, associada à falta de estabelecimento de limites, influenciam diretamente no comportamento e na formação do caráter dos jovens. O resultado é que hoje não querem mais seguir regras, não entendem que para cada ambiente é necessário um tipo específico de comportamento, não assumem responsabilidades, não têm compromisso com os estudos e nem demonstram respeito com os outros.
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Para agravar a situação, há uma tendência das escolas em diminuir cada vez mais a responsabilidade do aluno quando exigem menos dele em avaliações niveladas por baixo, infinitas recuperações paralelas, conselhos de classe, ou adotam o regime de aprovação automática. Para uma cultura em que os alunos só estudam sob pressão, tais medidas são um grande equívoco pedagógico.
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O professor, que passa mais tempo resolvendo conflitos em sala de aula que efetivamente ensinando, fica perdido, pois não sabe como resolver problemas que extrapolam os limites de sua competência e de suas responsabilidades.
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Mudanças precisam ocorrer, é fato. Respostas ainda não temos. Só sabemos que encontrar culpados não ajuda muito. A realidade mudou e precisamos inclusive perguntar se a instituição escolar, tal como a conhecemos hoje, não está com seus dias contados.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O mito da imparcialidade

"Não há fatos, há interpretações."
(Friedrich Nietzche)

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......O termo ‘imparcial’ é definido pelo dicionário Houaiss da língua portuguesa da seguinte maneira: 1. que se abstém de tomar partido ao julgar ou ao constituir-se em julgamento; que julga sem paixão, 2. que não sacrifica a verdade ou a justiça a considerações particulares. Defendo aqui a tese de que a imparcialidade absoluta não existe.
.....Sempre que expressamos algo, consciente ou inconscientemente, fazemos escolhas, omitimos informações, enfatizamos alguns fatos, diminuímos a importância de outros. Tais escolhas refletem os interesses individuais, de grupos ou de ideologias, pois não falamos num vácuo social, cultural e ideológico.
......A realidade é multifacetada, altamente complexa, precisamos fazer escolhas, recortes do real para tentar explicá-lo, descrevê-lo. Assim o faz as religiões, o senso comum e as várias disciplinas da ciência.
......Quanto mais visibilidade um indivíduo ou uma instância social tem, mais credibilidade as pessoas depositam neles e mais ares de verdade assume o que veiculam. No entanto, mesmo na ciência com seu inquestionável prestígio, as verdades são provisórias, contingentes, duram até outra teoria as colocar em xeque e inaugurar uma nova maneira de ver um determinado objeto de estudo.
......No âmbito jornalístico e político, a questão não é diferente. As notícias são sempre uma versão e um recorte do real, apenas um ponto de vista dentre vários outros possíveis. É comum vermos um mesmo acontecimento ser abordado de maneiras muito diferentes, por diferentes grupos políticos ou diferentes agências de notícia. Podemos usar como exemplo o debate que ocorreu último dia 09/11 entre os candidatos a prefeito de nossa cidade. Cada um veiculou por meio de carro de som a ‘vitória’ no evento.
......Nós, como indivíduos críticos, antes de aceitarmos as verdades que nos chegam diariamente, seja através do rádio, da TV, da internet, da revista, do jornal, do carro de som, precisamos perguntar: quem produziu o discurso? Que interesses individuais ou de grupo atende? De que está tentando nos convencer? O que está omitindo? O que está enfatizando? O que está desinformando?

domingo, 7 de setembro de 2008

Frases II


Nova série de frases sobre a nobre arte da política:


“Políticos são iguais em todo lugar. Eles prometem construir uma ponte mesmo onde não há um rio.”

(Nikita Krushchev)


“Eleições são ganhas principalmente porque a maioria das pessoas vota contra alguém e não a favor de alguém.”

(Franklin Pierce Adams)


“A política é a fina arte de conseguir os votos dos pobres e fundos de campanha dos ricos pela promessa de proteger um do outro.”

(Oscar Ameringer)


“Vote no homem que não promete muito; ele te decepcionará menos.”

(Bernard Baruch)


“As pessoas nunca mentem tanto como depois de uma pescaria, durante uma guerra e antes de uma eleição.”

(Otto von Bismarck)


“Nunca interrompa um inimigo enquanto ele está cometendo um erro”

(Napoleão Bonaparte)


“A educação torna as pessoas fáceis de lidar, mas difíceis de manipular; fáceis de governar, mas impossíveis de escravizar.”

(Lord Henry Peter Brougham)


“Até mesmo o homem mais bem intencionado precisa de alguns cafajestes ao seu lado; há coisas que não se pode pedir que um homem honesto faça.”

( Jean de la Bruyere)


“Os homens prontamente acreditam naquilo que eles querem acreditar.”

(Júlio Cesar)


“Democracia é o nome que damos as pessoas sempre que precisamos delas.”

(Arman de Caillavet)


“Você pode colocar asas em um porco, mas não pode transformá-lo numa águia.”

(Bill Clinton)


“Tenha todos os tolos do seu lado e você pode ser eleito para o que quiser.”

(Frank Dane)

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Letramento ou letramentos?

......Nos estudos lingüísticos, o fenômeno do letramento pode ser entendido de duas maneiras bastante distintas. A corrente mais tradicional e mais difundida concebe o letramento como a habilidade de ler e escrever, que vai desde o processo mais mecânico de decodificação da escrita (alfabetização), até a capacidade de extrair sentidos do texto. Essa linha considera o letramento como um processo mental, cognitivo, adquirido por meio da educação formal, principalmente no ambiente escolar.
.......Uma segunda corrente entende o letramento como um conjunto de práticas sociais situadas e específicas que se desenvolvem em diferentes contextos da atividade humana e que atendem a diferentes propósitos.
......Se as atividades humanas são variadas, as práticas sociais que envolvem o uso da escrita também o são, fazendo-nos concluir que não há um letramento, mas vários letramentos. Assim, o letramento que se aprende na escola é apenas um letramento em meio a vários outros. Não lidamos com o texto escrito na escola do mesmo jeito que o utilizamos no trabalho, em casa, na rua, no restaurante, na igreja, no banco, etc.
......À medida que vamos participando de diferentes práticas sócias, vamos tendo a necessidade de usar a língua escrita de diferentes maneiras, daí as expressões letramento acadêmico, letramento midiático, letramento jurídico, letramento eletrônico, letramento burocrático, etc.
......Um indivíduo pode participar de determinados eventos de letramento de maneira proficiente, mas apresentar dificuldades ou até incapacidade de participar de outros, o que torna a idéia de letramento como uma habilidade geral algo bastante insustentável.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A linguagem e suas artimanhas: os atos de fala

Em seu livro ‘Como as palavras realizam coisas’ o filósofo da linguagem John Austin descreve três noções básicas da teoria dos atos de fala: o ato locucionário, o ato ilocucionário e o efeito perlocucionário. Para ilustrar esses conceitos, pensemos na seguinte situação: um casal, andando pelo shopping, passa por uma vitrine de roupas e a mulher faz o seguinte comentário: ‘amor, olha que vestido bonito’. As palavras proferidas pela mulher seriam seu ato locucionário, é o que disse literalmente através da expressão lingüística utilizada. Porém, sua intenção parece não apenas comentar a beleza da peça de roupa, mas fazer um apelo para que o esposo a compre, portanto, a mensagem do seu ato ilocucionário é ‘compre esse vestido pra mim’. A maneira que o esposo recebe e interpreta a mensagem, sua re-ação ao que foi dito, corresponde ao efeito perlocucionário. Se ele compra o vestido, então o efeito perlocucionário foi compatível com o ato ilocucionário. Se o esposo finge que não entendeu a mensagem e a interpreta como um simples comentário sobre a beleza do vestido, então o ato ilocucionário não chegou ao objetivo desejado. Se, porém, o esposo reclama e diz que o vestido é caro e que não tem dinheiro para fazer a compra, a esposa pode tomar uma atitude defensiva e dizer que sua intenção era apenas comentar o aspecto estético do produto. Em suma, o ato locucionário é aquilo que digo, o ato ilucucionário é o que eu pretendo com aquilo que digo, e o efeito perlocucionário é a reação que provoco no meu interlocutor com o aquilo que falo.