quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Forró estilizado – valores invertidos


A música, como uma das várias modalidades de manifestação cultural, passa valores e conceitos, influencia atitudes e comportamentos. Por isso, não é ideologicamente neutra, como, aliás, nenhuma manifestação cultural é. Veja-se os filmes de Hollywood como influenciaram o comportamento, a maneira de vestir, os hábitos de consumo, fomentando uma homogeneização da cultura mundial. No âmbito mais local, o forró estilizado propaga valores que até pouco tempo eram considerados como negativos: o alcoolismo, o machismo, a mulher como objeto, a banalização do sexo, a traição conjugal e a promiscuidade masculina.

Como o discurso midiático tem uma forte influência sobre as mentes das pessoas, esses “valores” passam a fazer parte do ‘inconsciente coletivo’ (para usar um termo de Jung) e vistos como algo positivo, aceitável, comum.

A mensagem mais freqüente nessas músicas é o alcoolismo como virtude, como uma atitude de coragem, de masculinidade, uma demonstração de força, de virilidade.

O erotismo é outro aspecto bastante explorado por tais músicas. Trata-se de um erotismo extremamente machista em que a mulher é vista exclusivamente como objeto, como uma mercadoria que pode ser usada ao bel prazer e depois descartada. A inculcação desse discurso é tão forte que as próprias mulheres chegam a reproduzir esses valores, sem ver neles nenhum prejuízo.

Seguindo o discurso machista, a promiscuidade, a banalização do sexo e a traição conjugal são atitudes vistas como naturais, positivas, porém apenas se praticadas por homens.

Como nós, brasileiros, gostamos de relativizar tudo, levamos tudo na brincadeira, vemos essas músicas como engraçadas, inofensivas, divertidas, e não olhamos para a carga ideológica que elas trazem: o discurso fundamentalista-machista.

Um comentário:

Anônimo disse...

É uma pena que nem todos consigam entender a verdadeira síntese expressa em suas palavras meu caro, é por isso que sou a favor da censura para censurar coisas desse nivel, vivemos esperando dias melhores, livres dessas torturas musicais apelativas, parabéns pelo texto escrito.

Rafael Teles.